Dia: 14 de julho de 2025

  • Como o excesso de telas afeta o cérebro e as emoções das crianças?

    Como o excesso de telas afeta o cérebro e as emoções das crianças?

    Você já se perguntou o que acontece no cérebro de uma criança quando ela passa horas na frente do celular, da TV ou do tablet?

    Em um mundo onde as telas fazem parte da rotina desde muito cedo, entender os impactos reais dessa exposição é essencial para proteger o desenvolvimento infantil.

    Este post é um convite para refletir, sem culpa, mas com responsabilidade, sobre os efeitos do uso excessivo de telas no funcionamento cerebral, no comportamento e nas emoções das crianças, e também sobre o que os pais e responsáveis podem fazer para mudar isso com acolhimento e consciência.


    O que acontece no cérebro da criança com excesso de telas?

    O cérebro infantil, principalmente nos primeiros anos, está em formação intensa. Nessa fase, as conexões neurais se desenvolvem por meio de estímulos concretos: toque, movimento, escuta, olhar, fala, afeto, brincadeiras e interação com o mundo real.

    As telas, por outro lado, oferecem um estímulo rápido, constante e artificial, que pode causar:

    Sobrecarga sensorial: Cores vibrantes, sons intensos, transições rápidas de cena e estímulos visuais constantes podem deixar o cérebro da criança em estado de alerta — o que gera agitação, irritabilidade e dificuldade de concentração.

    Déficits na atenção e autorregulação: Estudos mostram que crianças expostas por muitas horas a telas têm mais dificuldade de manter o foco em tarefas simples, além de apresentarem menos tolerância à frustração e à espera. Isso acontece porque o cérebro se acostuma com gratificação imediata, tudo acontece com um clique.

    Alterações na plasticidade cerebral: A plasticidade é a capacidade do cérebro de se adaptar e aprender. Quando as experiências da criança são dominadas por estímulos digitais, o cérebro desenvolve conexões mais fortes com esse tipo de estímulo, e menos com habilidades essenciais como imaginação, linguagem, empatia e resolução de conflitos.

    Prejuízos no sono e na regulação do humor: A luz azul das telas interfere na produção de melatonina, o hormônio do sono. Isso afeta o descanso, o que, por sua vez, prejudica o humor, a memória, a atenção e o controle emocional da criança.


    E o impacto nas emoções?

    As emoções também sofrem com o uso excessivo de telas. Isso acontece porque:

    • A criança deixa de experimentar o tédio, a espera e a frustração, pois sempre tem algo pronto para entretê-la.
    • Fica menos sensível às emoções dos outros, o que reduz o desenvolvimento da empatia.
    • Não aprende a nomear e lidar com os próprios sentimentos, o que afeta a inteligência emocional.
    • Pode usar a tela como fuga, criando um padrão de regulação emocional disfuncional (ex: “estou triste → ligo o tablet”).

    O que dizem os especialistas?

    As recomendações da OMS e da Sociedade Brasileira de Pediatria são claras:

    • Até os 2 anos: nenhuma exposição a telas
    • De 2 a 5 anos: no máximo 1 hora por dia, sempre com supervisão ativa
    • A partir dos 6 anos: uso com equilíbrio, limites claros e orientação dos adultos

    Essas orientações não são apenas sobre tempo, mas sobre qualidade das experiências infantis.


    Como reduzir o uso de telas sem traumas?

    Se você já percebeu que o tempo de tela está exagerado na rotina da sua criança, o mais importante é não se culpar, e sim começar uma mudança gradual e consciente.

    Aqui vão algumas sugestões:

    1. Reduza aos poucos – diminua 15 a 30 minutos
    2. Ofereça alternativas reais – massinha, tinta, blocos, leitura, música, jardinagem
    3. Crie momentos sem tela na rotina – hora do jantar, hora do sono, hora do brincar
    4. Esteja presente – muitas vezes o que a criança mais quer é companhia e atenção
    5. Explique o porquê da mudança – mesmo pequenas, elas entendem mais do que pensamos
    6. Dê o exemplo – seu uso de tela também ensina

    Infância não precisa de tela. Precisa de vínculo, corpo, tempo e imaginação.

    O excesso de telas não é apenas um “mau hábito”, mas um fator que pode reprogramar o cérebro em formação, afetando o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças. Mas sempre é tempo de ajustar o rumo, com firmeza e afeto.

    Reduzir as telas é uma forma de devolver à criança o que é dela por direito: o brincar, o sentir, o imaginar, o criar, e o se desenvolver com saúde.