Todo mundo se sente triste de vez em quando, e ás vezes sem motivo aparente, outras por situações difíceis.
Mas… como saber quando essa tristeza passou do limite? Como diferenciar um momento ruim de algo mais sério?
A depressão é uma condição real, que afeta o corpo, a mente e a forma como nos relacionamos com o mundo. Ainda hoje, é comum ouvirmos frases como “é só pensar positivo”, “é falta de força de vontade” ou “todo mundo tem seus dias ruins” , mas depressão vai muito além disso.
Neste post, vamos te ajudar a entender melhor o que é depressão, quais são seus sintomas, como diferenciá-la da tristeza comum, e o que fazer caso você ou alguém próximo precise de ajuda.
O que é depressão?
A depressão, segundo o DSM-5, é um transtorno de humor caracterizado por sintomas emocionais, físicos e cognitivos persistentes por pelo menos duas semanas, com prejuízo significativo na vida da pessoa.
E ela não é só um “estado de espírito ruim”, é uma condição biopsicossocial, ou seja, envolve aspectos biológicos, psicológicos e sociais.
O que acontece no corpo?
No cérebro de uma pessoa com depressão, há um desequilíbrio em neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina, que são substâncias responsáveis por regular humor, sono, apetite, energia e motivação.
Além disso, estudos mostram que regiões do cérebro ligadas à regulação emocional — como o hipocampo, a amígdala e o córtex pré-frontal — podem apresentar alterações em seu funcionamento e volume em pessoas com depressão grave.
Ou seja: não é “frescura” nem imaginação. Há uma base física real para o que a pessoa sente.
Sintomas comuns de depressão
De acordo com o DSM-5, para que um episódio depressivo maior seja diagnosticado, a pessoa deve apresentar pelo menos cinco dos seguintes sintomas durante um período mínimo de duas semanas, e pelo menos um dos sintomas precisa ser obrigatoriamente humor deprimido ou perda de interesse/prazer em atividades. Esses sintomas devem representar uma mudança em relação ao funcionamento anterior e causar prejuízo significativo na vida da pessoa.
Alguns sintomas são:
- Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias
- Diminuição acentuada do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades
- Perda ou ganho significativo de peso, ou alteração no apetite
- Insônia ou hipersonia quase todos os dias
- Agitação ou retardo psicomotor observável por outras pessoas
- Fadiga ou perda de energia
- Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva
- Diminuição da capacidade de pensar, concentrar-se ou tomar decisões
- Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida, planejamento ou tentativa
Importante: os sintomas não podem ser causados por uso de substâncias ou por outra condição médica e não se limitam a uma reação proporcional a um evento de luto.
Nem toda tristeza é depressão, e nem toda depressão é visível.
Tristeza ou depressão?
Uma das dúvidas mais comuns é: “Mas será que o que eu sinto é depressão ou só uma fase difícil?”
A tristeza é:
- Uma emoção natural, geralmente associada a eventos específicos (ex: término, perda, frustração)
- Passageira, mesmo que intensa
- Uma resposta proporcional ao contexto
- Algo que não costuma causar perda significativa de funcionamento
Exemplo: você tirou uma nota ruim na prova que se esforçou. Isso te deixa pra baixo, desanimado por uns dias. Talvez você chore, fique introspectivo, mas aos poucos vai retomando o ânimo e voltando ao que gosta.
Já a depressão pode ser:
- Persistente, sem necessariamente um motivo claro
- Tira o brilho até das coisas boas
- Pode causar isolamento, desesperança, e sintomas físicos
- Afeta seu sono, apetite, concentração e autoestima
- Prejudica a vida pessoal, social e profissional
Exemplo: você até tirou uma nota boa na prova, mas não sentiu nada. O final de semana chegou e você não quis sair da cama. Alguém te chama pra fazer algo legal e você recusa, não por preguiça, mas porque parece que nada faz mais sentido (e isso se repete há semanas).
Quando é hora de buscar ajuda?
- Quando os sintomas duram mais de duas semanas
- Quando você sente que não é mais você mesmo
- Quando tarefas simples viram um esforço enorme
- Quando há pensamentos constantes de desistência, inutilidade ou morte
- Quando o sofrimento emocional passa a afetar sua vida pessoal, profissional ou social
Se você chegou até aqui e se identificou, por favor, considere procurar ajuda.
Canais de ajuda imediata (urgência/emergência)
Se você ou alguém próximo está em sofrimento intenso ou em risco de vida, aqui estão alguns caminhos de ajuda:
CVV – Centro de Valorização da Vida
- Atendimento 24h, gratuito e sigiloso
- Ligue 188 ou acesse www.cvv.org.br
Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou hospital mais próximo
- Em casos de urgência, busque um serviço de pronto atendimento
- Em cidades maiores, há prontos-socorros psiquiátricos, que atendem crises
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
- Atendimento gratuito pelo SUS para casos moderados e graves
- Informe-se na Secretaria de Saúde da sua cidade sobre o CAPS mais próximo
Autodiagnóstico não é solução
Por mais que seja comum se identificar com sintomas lendo conteúdos na internet, somente um profissional da saúde mental pode avaliar e diagnosticar corretamente.
Se você desconfia que está com depressão, o caminho é procurar um psiquiatra (para avaliação clínica e medicamentosa) e/ou um psicólogo (para iniciar o acompanhamento psicoterapêutico).
Não se automedique, não se compare com os outros, não silencie o que está sentindo.
Você não está sozinho(a)
Depressão tem tratamento, tem acompanhamento, e tem saída.
Mas ela precisa ser levada a sério, com respeito, acolhimento e o cuidado que merece.
Se você sente que está vivendo no modo automático, com um peso no peito que não passa, com pensamentos que doem e não cessam… isso é real, e você merece ajuda!
Fazer terapia, buscar um psiquiatra e falar sobre isso, é um ato de coragem, cuidado e é o início da sua recuperação. Você não precisa estar no fundo do poço para pedir ajuda, pode começar agora, no seu tempo, no seu ritmo.